Olhos fechados, visão plena. - Debutando o Apedeuta

domingo, 17 de setembro de 2017

Olhos fechados, visão plena.


Mais uma daquelas noites onde quanto mais me esforço para tentar relaxar e dormir, mais tenso e ansioso fico e por consequência menores são as minhas chances de ir dormir no horário certo, já me acostumei com essa rotina, prefiro passar as noites sozinhos e ter tempo para pensar, a ter que passar os dias acompanhado e começar a me preocupar com coisas supérfluas. Naquela noite ao recitar um mantra em minha mente, decidi que iria de uma forma ou de outra dormir cedo e tentar ao máximo ser “normal” no outro dia, pois bem, me coloco em posição imóvel deitado de forma que meus membros não encostem uns nos outros ou então no tronco, queria isolar ao máximo as minhas sensações. Nos primeiros minutos todo o corpo coça e formiga ( creio que seja uma forma do próprio corpo pedir para que eu saísse daquele estado de inércia) mas resisti e me mantive imóvel. Trinta, quarenta minutos se passaram e comecei a me sentir mais leve, começo a pensar que em breve conseguirei dormir afinal, para dormir de verdade não precisamo primeiro nos deitar e fingir que dormimos para então pegar no sono ?
Com o passar do tempo o quarto foi ficando cada vez mais iluminado e eu ainda sem me mexer, comecei a identificar e destacar os móveis e objetos de meu quarto ( só estava tranquilo pois o mantra que estava recitando antes tinha me relaxado e naquele momento não sabia mais se ainda estava pensando nele ou não, não importava mais) eu sabia que a qualquer momento eu poderia me mexer, mas eu não o fazia. De repente como uma epifania ou um raio, eu lembrei que ainda estava com os olhos fechados! Como poderia eu enxergar sem abrir os olhos? Pronto, sabia que estava dormindo ou então naquele tipo de situação onde se lê em contos de suspense que tu se encontra entre o mundo de Morpheu e o de Atlas, ou seja, eu estava entre o sono e a vigília e a única forma de realmente descobrir a verdade seria eu tentar me mexer, e foi com esse pensamento que a minha real angústia começou.
Com toda aquela situação a impressão que eu tinha era que meus olhos estavam abertos, só poderia ser isso afinal eu conseguia ver meu roupeiro, minha estante de livros, minha televisão, minha janela e muitos outros objetos que ficam em meu quarto, tomei a atitude que era necessária, comecei a levantar meu braço até a altura do meu rosto... Eu o via, logo, tinha certeza que estava de olhos abertos e de certa forma fiquei mais aliviado ao perceber que conseguia me mexer ( então não estava em um transe), fora o fato que todo aquela cerimônia que tinha feito para dormir tinha ido por água abaixo por eu ter me mexido, eu estava bem. Estava bem até o momento que com uma atitude quase impulsiva, sem pensar, levei minha mão até meu rosto de forma leve e delicada, o que percebi a seguir me deixa estarrecido.
Minhas pálpebras estavam completamente fechadas (era o que eu sentia com o tato) e ao mesmo tempo eu via tudo, até mesmo com a palma da mão tapando meus olhos. Nesse momento, incrédulo como estava, meu coração começou a acelerar e me obriguei a abrir os olhos para comprovar aquilo que até então só tinha visto em quadrinhos e na mente dos mais loucos escritores de ficção, e o que eu vi foi... o nada! Breu, escuridão total. Fechei as pálpebras e tapei a face com as duas mãos: tão claro como o dia! Eu não entendia como isso era possível e então minha sanidade começou a ser posta à prova.
É nesse momento que começo a pensar em todas as alternativas possíveis: Talvez eu estivesse como uma forma de “radar” conseguindo ouvir o som bater nos objetos e voltar até mim e essa projeção criava uma imagem mental da minha volta, ou então era só uma memória espacial que fazia com que eu me localizasse dentro do meu quarto ( e de certa forma de mim mesmo) ou poderia ser enfim, uma alucinação. Estaria ficando louco e perdendo o pouco de sanidade que me restava? Pensar nisso não ajudaria a recobrar a sanidade caso estivesse realmente em um estado alterado da cognição.
Resolvi que o melhor a se fazer era esperar e tentar dormir, afinal, no outro dia provavelmente eu nem lembraria de tal acontecimento.
Acho que nunca mais acordei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário